Uma das maneiras mais impactantes pelas quais a Atenção Plena mudou minha vida é como sou capaz de trabalhar com meus sentimentos de raiva.
Qualquer um que tenha me conhecido nos últimos anos nunca saberia como a raiva costumava comandar minha vida. Muitas vezes desejo que as pessoas que estão me conhecendo agora possam perceber a transformação pela qual passei em meu passado. Se as pessoas pudessem ver como a Atenção Plena me transformou de uma pessoa raivosa e irritável que odiava o mundo para um cara divertido e despreocupado, acho que todos dariam uma chance à Atenção Plena.
Minha prática de Atenção Plena me permitiu prestar atenção ao que está acontecendo em minha mente e corpo quando a raiva está surgindo. Costumo chamar isso de “botão de volume” da raiva, e vou me aprofundar um pouco mais nisso em breve.
Primeiro, quero dar a você um vislumbre do meu passado para que você possa ter uma melhor referência de onde eu costumava estar e onde estou agora por meio de uma prática de Atenção Plena.
O FILHO DE UMA ALCOÓLATRA
Eu cresci como filho de uma mãe alcoólatra, e isso me deu uma série de problemas durante o crescimento, mas o maior deles foi a raiva.
Fiquei extremamente bravo com minha mãe pois não conseguia entender por que ela não parava de beber. Achei que se ela me amasse de verdade, seria capaz de parar de beber por mim, mas não. Minha mãe acabou ficando sóbria quando eu tinha 20 anos, mas já era 20 anos tarde demais, e eu ainda tinha duas décadas de ressentimentos em relação a ela.
Além da raiva que sentia de minha mãe, sentia raiva do resto do mundo.
Olhando para trás, parece completamente insano (e meio que era). Isso me irritou ao crescer com crianças que não precisavam passar pelo que eu estava passando em minha vida doméstica. As crianças com quem cresci tinham ótimos pais, que ganhavam uma quantia decente de dinheiro e podiam comprar o que quisessem. Mas, não eram apenas as coisas materiais, eles realmente tinham pais e familiares que se preocupavam com eles.
UMA VIDA CHEIA DE RAIVA
Ficar com raiva o tempo todo era exaustivo, mas era a única maneira que eu sabia estar. Por causa disso, descontava minha raiva em qualquer pessoa que cruzasse comigo.
Enquanto crescia, embora não fosse uma pessoa que se envolvesse em muitas brigas físicas, eu tinha palavras que eram venenosas. Magoei muitas pessoas ao longo da minha vida dizendo as coisas mais ofensivas que pudesse pensar, e então me sentia extremamente culpado por isso. Embora pensasse que toda mulher com quem namorei era culpada pela minha dor, podia olhar para o meu passado e ver como eu era tóxico para qualquer menina que tivesse o azar de namorar comigo.
Esqueci de mencionar que me tornei viciado em drogas e alcoólatra por volta dos dezoito anos, mas consegui ficar sóbrio no meu vigésimo sétimo aniversário, em 2012.
Parte do meu programa de recuperação diz que uma das principais razões pelas quais bebemos e usamos entorpecentes é por causa dos ressentimentos - com os quais eu definitivamente me identifico. Outra parte deste programa é fazer reparações. Fazer as pazes com as pessoas que magoei no passado foi algo que me ajudou a me perdoar, mas também não sou muito fã de fazer as pazes.
Um dos problemas de ficar sóbrio é que você não se torna imediatamente um Ser Espiritual. Eu ainda tinha muita raiva e ainda não conseguia controlar meu temperamento. Era o epítome de alguém que reagia em vez de responder. Sempre que eu reagia mal, me sentia humilhado por precisar me desculpar. Eu precisava descobrir uma maneira de controlar minha raiva antes que chegasse a esse ponto, e foi aí que encontrei a Atenção Plena.
MINDFULNESS É MINHA FERRAMENTA DE CONTROLE DA RAIVA
Só encontrei o Mindfulness após ficar sóbrio. Minha raiva não era tão ruim quanto costumava ser, mas ainda estava lá. Eu sabia que ainda tinha muito a melhorar, então experimentei a meditação da Atenção Plena.
Desde a primeira vez que tentei meditar entendi imediatamente como isso poderia ser transformador em minha vida, mas não percebi o quanto isso me ajudaria com meus problemas de raiva.
Uma das razões pelas quais adoro a prática da Atenção Plena é porque existem muitas práticas informais. À medida que comecei a introduzir práticas diferentes, como caminhada consciente, escuta consciente e comunicação consciente, estava me tornando mais consciente em minha vida cotidiana.
O que comecei a perceber foi que só estava reconhecendo minha raiva quando estava prestes a explodir, e muitas vezes era algo que vinha se acumulando há algum tempo. Como eu não conseguia reconhecer os primeiros gatilhos da minha raiva, não era capaz de lidar com isso antes que eu reagisse de formas que me arrependeria depois.
Alguns padrões que desencadeavam os meus gatilhos de raiva, incluem:
• Me sentir desrespeitado;
• Mentiram para mim;
• Ser repreendido;
• Não ser tratado com justiça;
• Não me foi dado o devido crédito;
• Não ser apreciado.
Quando falo do “botão de volume” da raiva, quero dizer que a Atenção Plena me ajudou a começar a captar minha raiva em um nível de volume de um ou dois, em vez de nove ou dez. No momento em que minha raiva atinge o volume mais alto, ela está me controlando, em vez de eu controlá-la.
Estar mais atento ao longo do dia me deu a oportunidade não apenas de identificar minha raiva em seus estágios iniciais, mas também de tratá-la com compaixão e curiosidade.
Agora, quando sinto aquela raiva inicial dentro do meu corpo ou mente, fico muito curioso. Eu respiro calmamente e simplesmente penso: “Isso é interessante. Por que estou me sentindo assim em relação a essa pessoa ou situação?”
A Atenção Plena ajuda a organizar os pensamentos e a chegar à raiz do que realmente está acontecendo em minha própria mente. Muitas vezes, descubro que minha raiva é baseada em circunstâncias que estão completamente fora do meu controle, ou em outras circunstâncias que nada têm a ver com a outra pessoa/pessoas envolvidas.
Talvez a maneira mais profunda pela qual a Atenção Plena me afetou é que me fez perceber que minha raiva geralmente se baseia em sistemas de crenças que são bastante tacanhos.
UMA PRÁTICA DE COMUNICAÇÃO CONSCIENTE
Uma ótima prática que você pode começar a usar é a comunicação consciente. Isso envolve estar totalmente presente durante uma conversa, que envolve ouvir enquanto também está atento ao que sua própria mente e corpo estão fazendo.
Sugiro que comece a praticar isso com alguém com quem talvez você não se dê muito bem, mas não com alguém que o deixe excessivamente emotivo. Pode ser um colega de trabalho de quem você não gosta muito, um membro da família ou um amigo próximo. Se isso for demais para você, tente praticar enquanto navega nas postagens de mídia social ou assiste ao noticiário.
Ao se comunicar com essa pessoa, fique atento às emoções que surgem em seu corpo e às sensações que você está sentindo. Comece a perceber o que eles disseram que desencadeou a determinada emoção inicial e esteja ciente de onde você está sentindo as sensações em seu corpo.
Em vez de recorrer ao julgamento, apenas permaneça curioso. Fique fascinado com o motivo pelo qual seu corpo e sua mente estão reagindo da maneira que estão, naquele momento. Quando você trata esses pensamentos e sensações com equanimidade, é menos provável que reaja mal à situação.
Quando falo em ficar fascinado, quero dizer tratar sua experiência com a curiosidade de uma criança. Esta foi uma das minhas primeiras lições de Atenção Plena. Quando está sendo curioso, você não está julgando. Inspecione sua experiência como uma criança examinando de perto uma folha pela primeira vez, isso o ajuda a tirar o poder da forte emoção que está sentindo naquele momento.
Toda essa prática é extremamente importante porque nos dá a chance de fazer uma pausa. Quando fazemos uma pausa, somos capazes de responder em vez de reagir. As reações geralmente são o que a parte primitiva do nosso cérebro quer fazer, e não pensamos muito sobre nisso. O que normalmente leva ao arrependimento e ao sofrimento. Ao sermos capazes de fazer uma pausa e responder em um segundo momento, tomamos decisões muito mais sábias.
Isso exigirá prática até que você tenha seu temperamento sob controle, mas, com o tempo, começará a compreender quais as situações que desencadearam o desequilíbrio. Pessoalmente, estou impressionado com o quão bem minha raiva é administrada hoje, e é algo em que continuo trabalhando. Agora que sei como responder, em vez de reagir, não me arrependo das decisões que tomei devido a uma reação instintiva à raiva.
Como mencionei no início deste texto, gostaria que mais pessoas pudessem realmente entender o quanto a Atenção Plena me modificou. Sempre que vejo atos de violência, como abuso doméstico, brigas físicas entre estranhos ou até assassinatos, sei que eles acontecem devido à incapacidade que alguém teve de controlar sua própria raiva. Penso em como este mundo seria diferente se mais pessoas aprendessem essa prática.
Minha esperança é ser um exemplo para os outros quando se trata de controlar a raiva por meio da Atenção Plena. Se as pessoas puderem ver como eu respondo às dificuldades da vida hoje em dia, talvez elas decidam experimentar esse tal de Mindfulness.
🖋️ SOBRE Chris Boutté
Chris Boutté lutou contra a depressão, ansiedade e vícios durante a maior parte de sua vida. Após ficar sóbrio em 2012, ele estava em uma missão para melhorar sua saúde mental, bem como sua sobriedade, quando encontrou a Atenção Plena. Siga-o no Instagram @TheRewiredSoul. Se você quiser saber mais sobre a história de Chris, confira seu livro ESPERANÇA: Como superei a depressão, a ansiedade e o vício.
Fonte do texto: https://tinybuddha.com
Edição e tradução pela Bailarina Celeste
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