Acreditamos que o caminho para sair da dor está na busca de estímulos e diversões para a vida. Não é bem assim…
Em muitos momentos percebemos a vida entre altos e baixos. Hora estamos eufóricos e radiantes, hora estamos tristes e sem energia.
Nossa tolerância às frustrações é quase inexistente, fazendo com que estes altos e baixos sejam muito mais frequentes e acentuados.
Temos acima de tudo uma intensa intolerância ao fato de estarmos tristes e deprimidos, gerando muitas vezes uma obrigação de revertermos imediatamente o quadro.
Queremos estímulos que nos tire do “fundo do poço” e nos leve ao extremo oposto. Esses estímulos são como anestésicos que acobertam a origem do sofrimento, simplesmente postergando algo que precisa ser observado, acolhido, e só assim, curado.
Nossa intolerância à dor e à frustração é uma das grandes causas das doenças. Sabemos muito bem que acobertar a sujeira sob o tapete nunca foi uma boa estratégia.
A nossa percepção do extremo oposto, que chamamos de “felicidade”, normalmente está associada a experiências de prazer e realizações, que nos deixam entorpecidos, trazendo um esquecimento momentâneo para os nossos “problemas”. Criamos assim mais uma estratégia inconsciente para nos manter distantes da realidade.
Ao atingirmos um objetivo, ou o pico do estímulo, buscamos sempre outro, e outro, como viciados em uma droga ou em um jogo.
A busca da “felicidade” através de estímulos perpetua a constância da montanha-russa entre depressões e euforias. Agora, posso lhe dizer com uma grande certeza: nunca encontraremos a verdadeira felicidade nesse círculo sem fim.
Esse círculo mantém viva a raiz da ignorância, é a grande hipnose da vida, que nos mantém em sono profundo, é a cola que nos prende e nos mantém como escravos de um sistema todo preparado para a manipulação de pessoas inconscientes.
Como compreendemos os dois polos desta hipnose como polos que se contrapõem, nunca sairemos do ciclo. Só um redesenho e um novo olhar poderá nos ajudar a iniciar um processo que nos permita sair dessa armadilha.
Um primeiro passo neste redesenho está em criar uma amizade com a dor. Descobrir que ela existe para nos dizer algo. Nenhuma dor existe em vão. Seja um simples corte na mão, seja uma dor muscular ou a chamada “dor na alma”, elas sempre indicarão algo que precisa ser visto, cuidado e tratado.
Um fato importante é que toda dor é gerada no aqui e agora. E, se ela acontece no momento presente, não deve ser ocultada ou postergada. Devemos percebê-la com verdade, com inteireza. Ocultar a dor é como estocar veneno dentro de nós mesmos, uma hora ele vai transbordar e o resultado poderá ser fatal.
Para construir uma amizade com a dor e preparar a sua possível dissolução, devemos trabalhar com o seu antídoto, devemos compreender e estimular a aceitação.
Aceitar primeiro que a dor está aí e precisa ser acolhida. Se está aí, ela teve uma origem. E se conseguimos reconhecer a sua causa, devemos dar mais um passo: aceitar e assumir a nossa total responsabilidade por ela.
Temos sempre a tendência de culpar o mundo externo por nossas dores. Agora, quando examinamos a causa da dor com inteireza, sempre encontraremos a nossa real responsabilidade. Se não enxergamos uma responsabilidade individual, ao menos podemos visualizar uma responsabilidade grupal, onde sempre estamos incluídos.
Devemos nos lembrar que assumir a responsabilidade não deve servir para alimentar o grande fardo chamado “culpa”. A culpa é uma outra cola para toda a ignorância. De nada serve a culpa, senão criar uma negação para com a vida e para com o nosso real ser.
Existe uma grande diferença entre assumir a responsabilidade e conservar a culpa. A culpa fortalece a dor e perpetua a crença de que somos “o erro”. Agora, assumir a responsabilidade significa olhar e reparar a fonte que gera toda a dor, é reconhecer e redesenhar tudo o que nos tem direcionado a padrões equivocados de comportamento e inconsciência. Assumir a responsabilidade é aprender a lição, é aceitar a vida e assumir a realidade. Enfim, é permitir e aceitar a cura.
O processo de dissolução das dores é um caminho árduo, porém necessário. É o caminho onde destilamos os venenos e assumimos a autoliderança em nossas vidas. Não somos o acaso, somos o que criamos para nós mesmos.
Ao dar os primeiros passos nesse caminho é sempre valioso poder contar com um amigo, com um terapeuta ou um guia. Alguém que possa nos ouvir e nos apoiar, principalmente auxiliar-nos a assumir nossa total responsabilidade. Alguém que possa também entregar um colo, pois muitas vezes chorar é um dos grandes milagres da vida.
Quanto à sede por estímulos, vamos observando que conforme as dores são curadas, essa sede também vem perdendo o sentido, vem perdendo principalmente o seu poder de sedução. Aos poucos vamos percebendo que os altos e baixos da vida vão sendo cada vez menos acentuados. Descobrimos também que em vez de viver a incessante busca por estímulos, passamos a querer simplesmente reconhecer a verdadeira paz interna, que aponta sempre para a nossa real felicidade, nosso sublime e verdadeiro êxtase.
Nada do que é efêmero traz felicidade, a única fonte para ela mora em nosso centro: chame-a de “Paz”, de “Eu Sou”, de “Deus” ou simplesmente “Amor”.
~ Mahadeva
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